quinta-feira, 5 de julho de 2007

"FRANKFURTER KITCHEN"

As primeira reflexões sobre a racionalização da cozinha surgiram nos anos antes da guerra, durante os quais as idéias da emancipação feminina se desenvolveu no seio do movimento social-democrata e sindical. Durante esse mesmo período, os hábitos da mesma burguesia foram, eles também, modificados. As mulheres desse meio tinham casa vez mais tendência a aceitar empregos remunerados em escritórios ou em repartições públicas, enquanto que as jovens do campo vinham se empregar na cidade cmo domésticas se orientavam cada vez mais para os empregos industriais.
A nova cozinha é um elemento essencial para a simplificação das tarefas domésticas. Essa mesma simplificação se aplicará em tudo o que deve existir (e ser indispensável) numa residência: móveis, aquecedores, luminárias, equipamentos sanitários, instrumentos domésticos, louças, etc. Todos esses objetos serão estudados - frequentemente por arquitetos - de maneira a integrarem nas novas residências tanto do ponto de vista do conforto, quanto da facilidade de manutenção. O objetivo é desenvolver "tipos" de móveis em número ilimitado, sendo que a redução do número de modelos deve permitir sua produção industrial e a redução de seu custo.

É com a aparição do que se chamará a "Frankfurtes Kitchen" (Cozinha de Frankfurt) que os equipamentos de cozinha transformados em produtos industriais farão sua entrada na "habitação mínima" na nova arquitetura. Toda uma série de pesquisas e estudos deram origem ao protótipo da cozinha de Frankfurt: pesquisas realizadas com as mulheres para conhecer seus desejos, mas também estudos sobre o comportamento das mulheres no trabalho, seus gestos, os passos dados na cozinha e etc. Essas pesquisas e observações resultaram em diagramas de circulação dentro da cozinha e na localização ótima dos equipamentos que a compõem.

A idéia dominante, como no que se refere à própria habitação, é que tudo que constitui o ambiente material da vida cotidiana influi sobre o comportamento e participa assim das transformação progressiva da natureza humana.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Congrès Internationaux d'Architecture Moderne - CIAM

Os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna constituíram uma organização e uma série de eventos organizados pelos principais nomes da arquitetura moderna européia a fim de discutir os rumos da arquitetura, do urbanismo e do design. Um dos seus principais idealizadores foi o franco-suíço Le Corbusier.
Os CIAM foram responsáveis por discussões e pesquisas inéditas até então, como a busca da residência mínima e o design para as massas, que revolucionaram o pensamento estético, cultural e social do período. Seus objetivos foram: formular o problema arquitetônico contemporâneo; apresentar a idéia arquitetônica moderna; fazer essa idéia penetrar nos círculos técnicos, econômicos e sociais; zelar pela solução do problema da arquitetura.


Desde o momento de sua fundação, os CIAM avançaram pelo caminho das realizações práticas: trabalhos coletivos, discussões, resoluções, publicações. Os congressos CIAM, que sempre foram assembléias de trabalho, escolheram sucessivamente diferentes países para se reunir. A cada vez, eles provocaram, nos centros profissionais e na opinião pública, uma agitação fecunda, uma animação, um despertar.


1928 - 1° Congresso, La Sarraz, Fundação dos CIAM.

Fundação dos Ciam Em 1928 um grupo de arquitetos modernos se reunia na Suíça, no castelo de La Sarraz Vaud, graças à generosa hospitalidade de Madame Hélène de Mandrot. Depois de ter examinado, a partir de um programa elaborado em Paris, o problema colocado pela arte de edificar, firmaram um ponto de vista sólido e decidiram reunir-se para colocar a arquitetura diante de suas verdadeiras tarefas. Assim foram fundados os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, os CIAM.

1929 - 2° Congresso, Frankfurt (Alemanha), Unidade mínima de Habitação

O escolha dessa cidade para a realização do 2º CIAM dá-se devido suas realizações, já existentes ou sendo desenvolvidas. Nele foram apresentadas, confrontadas e discutidas células de habitação realizadas ou estudadas em diferentes países participantes do congresso, todas redesenhadas na mesma escala e com o mesmo grafismo. Mas a discussão apenas colocou o problema, sem chegar a um acordo comum ou a um conjunto de normas aceitas por todos. Mesmo assim foi uma importante medida para o conhecimento por todos os participantes das pesquisas e das soluções existentes nos diferentes países, constituindo um passo importante em direção a uma espécie de internacionalização sócio-cultural dos problemas de habitação.




1930 - 3° Congresso, Bruxelas, Estudo do loteamento racional.



1933 - 4° Congresso, Atenas, Análise de 33 cidades. Elaboração da Carta de Atenas.

A Carta de Atenas, que trata da chamada Cidade Funcional, prega a separação das áreas residenciais, de lazer e de trabalho, propondo, no lugar do caráter e da densidade das cidades tradicionais, uma cidade-jardim, na qual os edifícios se localizam em áreas verdes pouco densas. Tais preceitos influenciaram o desenvolvimento das cidades européias após a Segunda Guerra Mundial e a criação do plano piloto de Brasília por Lúcio Costa.

Chegou também ao seguinte postulado: o sol, a vegetação, o espaço são as três matérias-primas do urbanismo. A adesão a esse postulado permite julgar as coisas existentes e apreciar as novas propostas de um ponto de vista verdadeiramente humano.


1937 - 5° Congresso, Paris, Estudo do problema de moradia e lazer.
A célula base da nova cidade é a residência, concebida para ao mesmo tempo se adaptar às novas necessidades e para agir sobre seus utilizadores, participando assim de sua transformação: residência nova e sociedade nova. Para Le Corbusier, as duas coisas andavam juntas:
"As residências precisam de muito tempo para mudar de forma, para modificar seus princípios. Quando elas mudam, é porque reinam novos costumes. Os novos costumes intervêm apenas quando grandes transformações agitaram o mundo; as residências mudam apenas de última hora, quase que contra a vontade dos habitantes, contra a vontade das forças passivas de coservação (...)"


1947 - 6° Congresso, Bridgwater, Reafirmação dos objetivos dos CIAM.


1949 - 7° Congresso, Bérgamo, Execução da Carta de Atenas, nascimento da grille CIAM de urbanismo.


1951 - 8° Congresso, Hoddesdon, Estudo do centro, do coração das cidades.


1953 - 9° Congresso, Aix-en-Provence, Estudo do habitat humano.


1956 - 10° Congresso, Dubrovnik, Estudo do habitat humano.






SOLUÇÃO.... ?!?!

Na questão da habitação, a concepção que aparentemente era desejada pela maioria da população em questão era a da residência individual, eventualmente geminada ou em fileiras, com jardim individual. A necessidade, na qual se vira grande parte da população, de cultivar os poucos terrenos livres existentes no interior do tecido urbano para plantar os legumes desaparecidos do mercado, reforcara as aspirações já existentes de um contato mais estreito com a natureza.

- Vista do espaço interior: ao fundo, a creche e a lavanderia coletiva. Os imóveis são de três andares com seis apartamentos cada um.


Nas habitações concebidas para essas novas comunidades, serão criadas as condições necessárias para a simplificação das tarefas domésticas que habitualmente são responsabilidade da mulher. As lojas cooperativadas, as creches, os jardins da infância, as lavanderias coletivas serão os "monumentos" dessa nova arquitetura. Os problemas de orientação, de iluminação, de insolação e de ventilação são determinantes no que se refere aos planos de conjunto, resultando frequentemente em conjuntos bastante monótonos, na medida em que existe apenas uma orientação que é a melhor. A monotonia que resulta dessas blocos todos tão rigorosamente idênticos é a própria expressão da preocupação com a higiene, tão cruelmente ausente nos cortiços operários do passado; ela adquire um valor simbólico, que é justamente uma das características formais da nova arquitetura, tanto quanto os espaços cultivados, generosamente distribuídos e que transformam radicalmente a própria idéia de cidade que, do deserto de pedra que era até então, torna-se uma cidade verde onde a natureza está junto aos edifícios, acessível a todos, e ao mesmo tempo um instrumento de ação sanitária e um local de relaxamento e repouso.

CONSCIENTIZAÇÃO....



Entre a Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX, o modo de produção havia mudado. O que Le Corbusier chamara de "Sociedade Maquinista" estruturara uma categoria social que a imensa maioria dos arquitetos se obstinava em ignorar, mas a qual a vanguarda arquitetônica considerava com razão como sua clientela potencial, não enquanto indivíduos, mas enquanto grupo social ocupando um lugar preciso na sociedade. Assim se passou de uma arquitetura reservada às realizações únicas e excepicionais à arquitetura aplicada à solução das necessidades desse novo cliente coletivo constituído basicamente dos trabalhadores nas indústrias e escritórios.

Grandes parcelas da população acreditam na iminência das das transformaçoes sociais e políticas fundamentais. Na Hungria, na Alemanha, faltou pouco para que essas transformações se realizassem e a repressão que se seguiu a esses fracassos avivou a vontade de mudar. Dessa época, tenta-se reter apenas o aspecto dos "anos loucos", da busca desenfreada dos prazeres após o grande pavor da guerra, que é um dos componentes do estilo "Arts-Déco". Mas o outro aspecto, o da crença profunda nas transformações iminentes, foi sem dúvida alguma mais importante entre as massas despossuídas e entre cretos intelectuais (entre os quais arquitetos e urbanistas) que nesse momento se aliaram ao movimento operário.

O nível relativamente baixo de urbanização e industrialização detém a tomada de consciência desses problemas por um maior número de pessoas, mas os arquitetos do movimento "moderno", que se contam nos dedos da mão, não desistem de imaginart soluções arquitetôncias e urbanas para uma demanda que ainda não se expressa, mas que pressentem próxima.




E é esse conceito fundamental de "cultura do modo de vida" que estará na base de todas as teorias arquitetônicas e artísticas da década de 20. É ele que faz nascer na arquitetura formas de habitação inteiramente novas e fundadas sobre as idéias que os revolucionários - alguns deles, pelo menos - faziam da sociedade do futuro. Para construir essa sociedade fundada, nas novas relações entre os indivíduos, grupos sociais e sexos, era indispensável transformar hábitos e comportamentos forjados pela sociedade antiga. E os realizadores dessa revolução arquitetônica nos anos 20 e 30, tentaram encontrar formas que não estivessem em contradição com materiais e técnicas surgidas na época de Revolução Industrial, mas al contrário, queriam que se harmonizasse com elas; e juntos com outros, fizeram explodir o espaço geométrico fechado e abrigaram-no para o exterior, para a luz, o verde; para eles,a função da arquitetura não se limitava à satisfação das necessidades biológicas primárias; consideravam sua função exatamente como de parteiros de uma sociedade nova na qual o que Le Corbusier chamava das "Alegrias Essenciais" não seria um privilégio, mas sim um direito...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

AS NOVAS CONSTRUÇÕES "BY LAW"


Após constatações e estatísicas assustadoras, nascem algumas propostas revolucionárias, políticas e urbanísticas para mudar ao mesmo tempo, a organização social e a organização das habitações e conjuntos habitacionais. Um grupo de funcionários e políticos radicais promovem um série de inquisições sobre as condições de vida nas cidades. Os piores detalhes sobre as casas e os operários são apresentados à opinião pública, que reagem e reclamam uma intervenção: mas foram necessários anos de discussões acirradas para se votar a primeira lei sanitária.
Estabelece-se assim um novo modelo de cidade, no qual obtêm-se sucesso imediato e duradouro: permite organizar e fundar as cidades coloniais em todas as partes do mundo e ainda influencia de maneira determinante a organização das cidades em que vivemos hoje. É gerado um espaço mínimo necessário para fazer funcionar o conjunto da cidade necessário para a rede de percursos (ruas, praças, estradas de ferro, etc.) e para a rede de instalações (aquedutos, esgotos, eletricidade, telefone, etc.); a utilização dos terrenos urbanizados depende dos proprietários individuais, os regulamentos que limitam as medidas dos edifícios em relação às medidas dos espaços públicos, e fixam as relações entre edifícios contíguos; as linhas de limite entre o espaço público e o espaço privado - as frentes para as ruas - bastam para formar o desenho das cidades.


A periferia a ser organizada faz aumentar o custo das moradias, e obriga a conservar um certo número de habitações precárias para as classes mais pobres; tende a tornar-se compacta, e não deixa lugar para estabelecimentos industriais, amarmazéns e etc. Esses elementos - necessário à cidade mas incompatíveis com o desenho até agora descrito - são levados para uma "terceira faixa", o subúrbio, que é impelida sempre pra mais longe, à medida que a cidade cresce.
Alguns defeitos mais evidentes das cidades são atenuados por alguns corretivos: parques públicos - que oferecem uma amostra artificial do campo, agora inalcançável - e as "casas populares" construídas com o dinheiro público. A cidade atual se sobrepõe à cidade antiga, e tende a destruí-la: interpreta as ruas antigas como ruas-corredor, elimina casos intermediários entre utilização pública e privada do solo e considera os edifícios como manufaturados intercambiáveis, ou seja, permite demolí-los e reconstruí-los.

Segue-se assim um ciclo de adequações habitacionais e urbanísticas, que conduzirão sempre a novos fatos, que exigirão outros modelos e planos para a excelência da qualidade de vida nas cidades. Uma tarefa que desafia-nos até hoje.


O SURGIMENTO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS


"Um homem que tinha terras de dez libras por ano
Mandou medir as mesmas e as vendeu;
Tanto assim que de dez libras ele fez boa vintena,
ganhando mais por ano que outro antes."


(trecho do livro de Robert Crowley, "Aumentadores de Aluguéis")


A transformação de casas antigas em moradias coletivas apinhadas, onde toda uma família - ou muitas vezes, mais do que uma família - podia ser amontoada num só aposento, não foi suficiente para acomodar a crescente população das cidades mais prósperas. E quanto mais densa a ocupação, mais elevada a renda: quanto mais elevada a renda, maior o valor capitalizável da terra. Nos arredores da cidade comercial, este processo seguiu um ritmo acelerado. Dividindo fazendas contíguas em trechos de construção, o desmenbramento peça a peça da cidade organizada foi realizado; a aceleração dos transportes, empresa a princípio privada, depois pública, aumentou as possibilidades de rodízio e acelerou o ritmo de toda a transformação urbana. A especulação comercial, a desintegração social e a desorganização física prosseguiram de mãos dadas. No próprio momento em que a cidade estava se multiplicando em número e aumentando em tamano, por toda a civilização ocidental, a natureza e a finalidade de cada cidade tinham sido completamente esquecidas: formas de vida social que os mais inteligentes já não compreendiam, os mais ignorantes não estavam preparados pra construir. Ou antes, os ignorantes estavam completamente desprepadarados, mas isso não os impediu de construir.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

HABITAÇÕES POPULARES E AS CONDIÇÕES DE MORADIA


Geralmente, as casas das classes operárias eram construídas sem qualquer sistema ou consideração com a posição da propriedade limítrofe e, para economizar espaço, eram amontoadas em pátios estreitos ou vielas cegas, com péssima ventilação e sem qualquer esgoto ou fossa. Os habitantes utilizavam "utensílios" no quarto de dormir, que esvaziavam nas ruas, diante das portas, nos rios ou, no caso dos homens, serviam-se dos numerosos montes de lixo abandonado pela cidade ou no muro das casas, sem qualquer preocupação com a decência. As crianças eram colocadas sobre cadeiras sem fundo, nas ruas, para as mesmas necessidades. O resultado pode ser melhor imaginado que escrito.

(...) Muitas das melhores casas são formadas apenas por dois cômodos pequenos, em geral não superiores a 2,5m por 3,5m. Nestas habitações existem, usualmente, 3 camas no cômodo do andar superior, ocupadas por 5 ou 6 pessoas (...).

Este agrupamento de muitas casas num ambiente tão restrito impedia a eliminação dos refugos e do desenvolvimento das atividades ao ar livre: ao longo das ruas ainda corriam esgotos descobertos onde acumulavam-se imundícies, e nesses mesmos espaços, circulavam pessoas e veículos, vagueiavam animais e até brincavam as crianças. Além do mais, os bairros piores surgiam nos lugares mais desfavoráveis: perto das indústrias e das estradas de ferro, longe das zonas verdes. As fábricas perturbavam as casas com fumaças e ruídos, poluíam os cursos d'água e atraiam um trânsito que quase misturava-se com as casas.
Casa residência era construída sem levar absolutamente em conta as outras residências, e os pequenos cantos livres entre cada habitação, por falta de outro nome, eram chamadas de pátios. Mas se a disposição totalmente destituída de um plano já era tão nociva à saúde dos habitantes porque impedia a ventilação, este modo de encarcerar os operários em pátios cercados por todos os lados de construções era muito mais. O ar não podia absolutamente sair dali; as próprias chaminés das casas, enquanto o fogo era mantido aceso, constituíam a única via de saída para o ar viciado dos pátios.

Pode-se dizer então que tais bairros operários estavam errados em sua localização urbanística, mais do que em termos de construção em si. As consequências concretas saltavam a seus olhos e a seu nariz: a insalubridade, o congestionamento, a feiúra.

EFEITOS DESSAS TRANSFORMAÇÕES



O crescimento extremamente rápido das cidades na época industrial produz a transformação do núcleo anterior - que se torna o centro do novo organismo -, e a formação ao redor deste núcleo, de uma nova faixa construída: A PERIFERIA.
O núcleo já tem uma estrutura formada, mas não pode mais tornar-se o centro de um aglomerado humano muito maior: as ruas são demasiado estreitas para conter o trânsito em aumento, as casas são demasiada diminutas e compactas para hospedar sem inconvenientes uma população mais densa. Assim, as classes abastadas abandonam gradualmente o centro e se estabelecem na periferia; as velhas casas se tornam casebres onde se amontoam os pobres e os recém imigrados.
Os efeitos destas transformações se somam e se tornam mais graves por volta de meados do século XIX. A periferia torna-se então um teritório livre onde se somam um grande número de iniciativas independentes: bairros de luxo, bairros pobres, industriais, depósitos, instalações técnicas, etc.
Uma descrição do centro de Manchester publicada por Engels, em 1845:
"As ruas, mesmo as melhores, são estreitas e tortuosas; as casas sujas, velhas, em ruínas, e o aspecto das ruas é absolutamente horrível(...); aqui estamos num bairro quase que exclusivamente operário, porque também as lojas e as tabernas não se dão ao trabalho de parecerem um pouco asseadas. Mas isso ainda não é nada em comparação com as vielas e os pátios que se desdobram por trás delas, e aos quais se chega somente por meio de estreitas passagens cobertas através dos quais não passam nem duas pessoas uma do lado da outra. É difícil imaginar a desordenada mistura de casas, que troça de toda urbanística racional, o amontoamento, pois estão literalmente encostadas umas às outras. Em tempos mais recentes a confusão chegou ao máximo, pois onde quer que houvesse um pedacinho de espaço entre as construções precedentes, continuou-se a construir e a remendaram até tirar de entre as casas, a última polegada de terra livre ainda suscetível de ser utilizada. Muitas delas são piores do que se possa imaginar, totalmente desprovidas de esgotos comuns. As casas geralmente têm dois andares; as fundações muitas vezes colocadas diretamente sobre a zona herbosa e sobre terreno vegetal, e não existe qualquer ventilação entre os pavimentos dos locais de habitação e o terreno não drenado que se encontra imadiatamente abaixo. A água abre seu caminho sob as casas e, unida aos líquidos que saem das fossas negras, frequentemente vem à tona com vapores nocivos que facilmente chegam à sala de estar."

FATORES QUE INFLUENCIARAM A ORDEM NAS CIDADES


01) O aumento da população, devido a diminuição do índice de mortalidade, que pela primeira vez se distancia decididamente do de natalidade. Por isso cresce o número de habitantes: na Inglaterra, de 7 milhões em 1760 para 14 milhões em 1830. Cresce também a duração média de vida - de 35 anos para 50 ou mais - , modifica-se a estrutura da população, com um maior número de jovens devido a queda da mortalidade infantil.
02) O aumento dos bens e dos serviços produzidos pela agricultura, indústria e pelas atividades terciárias, por efeito do progresso tencológico e do desenvolvimento econômico;
03) A redistribuição dos habitantes no território, em consequência do aumento demográfico e das transformaçoes da produção. Os estabelecimentos tendem a concentrar-se ao redor das cidades. Deste modo, as cidades crescem mais rapidamente do que o restante do país, porque acolhem seja o aumento natural da população, seja o fluxo migratório dos campos;
04) A rapidez e o caráter aberto destas transformações, que se desenvolvem em poucos decênios e não levam a um novo equilíbrio estável, mas deixam prever outras transformações cada vez mais profundas e mais rápidas;
"Este vasto universo que nos maravilha é a casa do pobre, é a casa do rico que foi espoliado. Ele tem como teto a abóbada celeste e comunica-se com a assembléia dos deuses... O pobre pede uma casa, onde não serão admitidas quaisquer das decorações empregadas com profusão nas casas dos Plutões modernos. A arte deverá interpretar suas necessidades e submetê-lo á proporção adequada".

C. N. Ledoux